quarta-feira, 23 de maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Balada do cisco

Você é um cisco que caiu no meu olho

Quanto mais eu tento te arrastar
te tirar daqui
mais você se entranha

Ai
Ai…
In
My
Ai’s

Me torturando
Rasgando
Doendo
Caem lágrimas
Cilios
Fucking dreams falling down

E vc aqui
taking a rest
violando meu olhar

Ai
Ai…
In
My
Ai’s

Quer me cegar
Castigar
Enlouquecer
Tatuar minha retina

You walk
under my skin

Escreve o quer nas minhas pálpebras
pra eu ter que te ler de olhos fechados

Sem saída
Only you, sweet baby
Fazendo a sua casa nos meus olhos

quinta-feira, 4 de março de 2010

Em paz

não leva de mim tudo que eu tenho esse grito me deixa os olhos porque gosto de ir ao cinema não leva minhas roupas num me deixa assim nua despida exposta como se estivesse à venda não leva todas as cadeiras me deixa sentar e olhar pro teto leva esse grito não encoste nessas asas por gentileza me coloque pendurada nelas pra ver do alto o chão desabar me deixa uma brisa eu queria tanto respirar esse grito me deixa a boca e a garganta pra cantar não leva os meus cabelos porque eles me mostrarão que o tempo passou e que ainda estou viva do resto dos pelos não preciso meu peito pode levar é um favor que você me faz já que esse aperto é que nem morte e eu ainda não morri leve todos os discos e esse grito eu precisaria do peito para ouví-los deixe minhas mão em paz posso querer me coçar não leva as janelas nem as portas me deixa assistir o céu e esse grito me deixe apenas um sapato velho que ele será minha nova casa

sábado, 17 de outubro de 2009

Um corpo que cai

O mais que se faz pode ser nada. Talvez o melhor seja o corpo na cama. Afrouxado, estirado. Que o corpo na cama não há nada igual. O mais que faço não há de ser nada. O corpo amolescendo, ainda que tenso, pesado ainda que suspenso no ar, na cama, ainda que fora dela. O corpo de bruços na cama com o coração batendo nela.

sábado, 10 de outubro de 2009

Vida

Tudo igual apesar da morte. O despertador toca ainda, o ônibus faz seu exaustivo trajeto, homens e mulheres saem e voltam pras suas casas mais gordos ou mais magros, alguém tosse a cada instante em todas as cidades do mundo, a cada mínimo fragmento de instante alguém ganha um beijo ou um tapa. As pessoas riem ainda.
As coisas são todas indiferentes à morte.

Alguém acaba de morrer no Equador, em Lima, em Nova York e na Romênia ao mesmo tempo em que escrevo esta linha e outras mais tornam a morrer enquanto esta frase está sendo lida. E o mundo continua dando suas voltas e a chuva vem caindo da mesma maneira molhada.

Alguma coisa morre dentro de alguém na Áustria, na Bulgária e na Guiana Francesa. Mas os comercias continuam passando na TV e tem um homem falando eu te amo nesse exato momento. As pessoas continuam comendo e trepando onde quer que seja, milhares ao mesmo tempo em todo o planeta.

Morrer sem estar morto e ver que a vida segue igual.
Morrer pra nascer de novo.
Alguém acaba de dizer socorro.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

CASA-DE-COISAS



Sou casa de coisas. Por dentro dos ossos dos braços, mãos e pernas, possuo placas tectônicas, que quando se esbarram causam pequenos ou grandes tremores. Após o choque, podem se precipitar os pequenos vulcões que habitam minha pele dentro, e que, após a agitação intensa das placas, entram em erupção na superfície dessa pele branca com algum vestígio de sol. Nos olhos tenho chafariz. Dentro do peito formou-se um moinho rústico de madeira. Em determinadas épocas brota pro lado de fora do peito uma espécie de manivela rotatória do moinho, que convida coisas do lado de fora a moverem-no. Pessoas, aviões, filmes, álcool, barata, espelho, música, televisão, pessoas, morte, filmes, televisão, altura, pessoas, filmes e livros. Todos mãos que giram a manivela fora que gira o moinho dentro. O movimento das hastes abre a carne e moe o coração.

Dentro da cabeça construí a casa onde moro - ou seria a casa que mora em mim? As vezes passo dias a fio trancada dentro dela e não abro nem as janelas. Principalmente quando estou em reunião com outros de mim que também moram lá. No meio das minhas pernas tem também uma casinha onde posso receber visitas que não eus. Algumas dessas visitas podem se tornar mais freqüentes. Uma delas além de se tornar tão frequente pode me fazer tão feliz, e pode sentir-se tão em casa, que um dia acaba deixando alguém que saiu de dentro dele morando em mim. Ou me faz tão triste que bagunça minha casa e bota pra funcionar as placas tectônicas, os vulcões, o chafariz dos olhos e o moinho do peito, todos ao mesmo tempo.

Casa de coisas esperando que caiba tudo. Querendo que o corpo abrigue além de mim. Tenho esses botões. Algum faz chover e eu fico de baixo olhando sem guarda-chuvas. Sou viciado em me molhar no tempo. Minha pele se alenta com a chuva. Chuviscaindo em mim. Molhandomente meu rosto. Caindormindo água na bocadência da língua.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Lembrança para Clara



Lago do Titicaca, 1 de junho de 2008

Já não me lembrava como é bom estar sã. A sensação de eternidade, de eterna permanência na dor que não cessa quando se está enfermo é das piores que o ser humano pode experimentar.
Finalmente bem!
No Titicaca, dentro da balsa, atravesso suas águas ditas sagradas, adorando a história que acabo de ouvir. A história é de que lá nasceram o Sol e a Lua, pra quem quiser acreditar. Para os campesinos daqui é verdade absoluta.
Essa balsa me traz lembranças de idas e vindas para Niterói, o mesmo embalo que a Baía de Guanabara propõe aos que por lá navegam.
Estou feliz de rever os niños bolivianos! Vou sentir falta deles.
Estou acordada, olhos atentos. No andar de cima só o céu. Clara tem medo de barco como eu tenho de avião. Ela dormiu. E agora não está mais com medo. Que bom remédio o sono.

Isla del Sol, 2 de junho de 2008

Que bom chegar até aqui. Este foi sem dúvida um dos lugares mais lindos por onde passei ao longo dos meus 27 anos. Vinte e sete anos não são nada. As ruínas que encontrei aqui têm mais de 9.000 anos. E estão lá, lindas e enigmáticas. Se eu chegasse aos 9.000 anos queria que fosse assim. Hoje visitei a pedra onde foram gerados o Sol e a Lua. Estou começando a acreditar nessa história só porque ela é tão bonita e misteriosa quanto esse lugar que esconde segredos embaixo de cada pedrinha e bem no fundo desse lago imenso.
Que belas histórias tenho ouvido... Juan as conta com tanto orgulho. Ele deve ter seus 50 anos e nunca morou em outro lugar. Nasceu ali, como o sol e a lua, mas a diferença é que ele jamais foi embora.
Subi na rocha e me sentei. De lá podia ver algumas ovelhas com seus filhotes. Tirei o sapato e pisei com a sola dos pés. Juan disse que a rocha era sagrada e eu sentiria se tocasse as mãos. Acho que era. Com os pés na pedra me senti rocha, céu, ovelha, água, Keruak, tudo ao mesmo tempo e indivisível. Estava estranhamente feliz.
É realmente sagrado esse lugar, todo feito de uma matéria que não se pode desvendar qual é.
Essa brisa hippie bate com toda força, é muito engraçado.
Clara adoeceu e não está vendo nada isso. Eu fico boa, ela adoece...

Lago do Titicaca, 3 de junho de 2008

Quero voltar um dia. Indo para Copacabana na mesma balsa em que vim para a ilha, vejo uma mulher que tenta interagir com duas cholas que estão no barco. Ela fala e pergunta coisas ao mesmo tempo em que fotografa tudo de uma maneira tão histérica que me faz trocar olhares e risos discretos com uma das cholas. Nós observamos a mulher e achamos graça, somos cúmplices.
Clara dorme novamente. Penso na minha chegada em Buenos Aires.